Ilustração em xilogravura colorida com elementos lúdicos representando os mitos do Candomblé em estilo cordel.Mitos do Candomblé: ilustração em estilo de xilogravura lúdica para desmistificar preconceitos e valorizar a ancestralidade dos orixás.

Mito não é apenas uma mentira. Às vezes é uma meia-verdade, uma ideia distorcida, ou um eco de preconceitos antigos. No caso do Candomblé, os mitos que cercam a religião são frutos da intolerância, do racismo e da ignorância. Este texto é um convite para romper esse ciclo, com respeito, escuta e informação.

Vamos desmistificar os principais mitos sobre o Candomblé — não com confronto, mas com axé, saber e ancestralidade.


Por que ainda existem tantos mitos sobre o Candomblé?

Durante mais de quatro séculos, o Candomblé resistiu às tentativas de silenciamento. Criminalizado, perseguido e estigmatizado, foi associado a imagens negativas construídas pela sociedade colonial e cristã.

Com o tempo, essas imagens viraram “mitos” que se espalharam como verdades. Hoje, desfazê-los é um ato de educação, justiça histórica e espiritualidade.


Mito 1: “Candomblé é coisa do demônio”

Esse é o mito mais violento e persistente. O conceito de demônio é exclusivo das tradições judaico-cristãs e não existe no Candomblé nem na cosmologia iorubá.

O que há são orixás: forças da natureza, energias que se manifestam na mata, no fogo, na chuva, no ferro, no amor e na justiça. Chamar uma religião ancestral de “coisa do demônio” é ato de intolerância e desinformação.


Mito 2: “Orixás são santos católicos”

Essa confusão nasceu do sincretismo religioso. Os africanos escravizados foram forçados a esconder seus cultos e associaram orixás a santos católicos como forma de resistência.

Oxum foi associada a Nossa Senhora Aparecida. Ogum a São Jorge. Mas orixá não é santo. Orixá é natureza viva, é energia ancestral. A semelhança é estratégica, não teológica.


Mito 3: “Todos no Candomblé incorporam”

A incorporação é uma das formas de manifestação dos orixás, mas nem todos os filhos de santo incorporam. A religião tem muitos papéis e funções:

  • Ogãs: tocam os atabaques, não incorporam
  • Equedes: cuidam dos orixás e dos filhos em transe
  • Abiãs: iniciantes, em preparação espiritual

A incorporação é importante, mas o axé está presente em cada função.


Mito 4: “Sacrifícios de animais são cruéis”

O sacrifício de animais no Candomblé segue rituais com profundo respeito. Os animais são consagrados, não sofrem e sua carne, na maioria das vezes, é compartilhada em refeições coletivas.

Oferendas são parte do ciclo da vida. No itan de Obá e Xangô, o sacrifício é ofertado não como punição, mas como gesto de renúvelação e obrigação espiritual.


Mito 5: “Candomblé é só para pessoas negras”

O Candomblé é uma religião de matriz africana, mas é aberta a todas as pessoas. O que importa é o respeito, a entrega e a vontade de seguir o caminho dos orixás com verdade.

No terreiro, o axé não escolhe cor: escolhe intenção.


Mito 6: “Candomblé e Umbanda são a mesma coisa”

São religiões irmãs, mas diferentes:

  • A Umbanda mistura espiritismo, catolicismo e elementos afro-brasileiros.
  • O Candomblé é tradicional, com liturgia africana, iniciações e ritos fechados.

Ambas merecem respeito. Mas confundi-las é ignorar suas particularidades.


Mito 7: “Precisa abandonar outras crenças para entrar no Candomblé”

Não. O Candomblé não impõe rupturas, mas propõe entrega e compromisso. Muitos filhos de santo passaram por outras religiões antes. Cada caminhada é única.

A religião não exige abandono, exige verdade.


Mito 8: “O Candomblé é atrasado ou primitivo”

Essa é uma das formas mais veladas de racismo. O Candomblé tem saberes milenares sobre:

  • Fitoterapia
  • Psicologia ancestral
  • Comunidade
  • Cosmologia
  • Ritmo e cura

Não há nada de “primitivo” em uma religião que resistiu por mais de 500 anos com sabedoria, organização e axé.


A importância de desmistificar com respeito

Desmistificar não é debochar. É educar com empatia. É abrir espaço para o diálogo, para a escuta, para o entendimento entre fés e culturas.

Toda vez que um mito é desfeito, o axé encontra caminho.


Conclusão: Conhecimento é caminho para o axé

Falar do Candomblé com verdade é proteger o que é sagrado. É garantir que as próximas gerações possam conhecer a religião sem medo, sem vergonha, sem mentira.

O conhecimento é ferramenta de liberdade. E a liberdade é fundamento de toda religião que respeita a vida.


Fontes recomendadas

Leitura externa: Para se aprofundar nos mitos e fundamentos do Candomblé, recomendamos o artigo educativo do Brasil Escola, uma fonte confiável e acessível.

Leitura interna: Veja também nosso conteúdo complementar Mitos e Verdades sobre o Candomblé com explicações ampliadas.

Livro recomendado: 📚 Orixás – Pierre Verger, um clássico essencial para entender os mitos, rituais e tradições afro-brasileiras com profundidade e respeito.


Comente com seu axé

Qual desses mitos você já ouviu? Qual mais te surpreendeu? Deixe seu comentário abaixo e fortaleça essa corrente de verdade e espiritualidade. Axé!

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Avatar de Carlos Duarte Junior

By Carlos Duarte Junior

Carlos Augusto Ramos Duarte Junior é um explorador apaixonado pela cultura e espiritualidade afro-brasileira. Influenciado pelas mulheres fortes e sábias de sua família, ele busca incessantemente entender e compartilhar o conhecimento sobre o Candomblé. Desde jovem, Carlos foi inspirado por sua mãe, avó, tia e irmã, que despertaram nele uma curiosidade pelas tradições ancestrais do Brasil. Formado em Economia, ele encontrou sua verdadeira paixão na cultura afro-brasileira, mergulhando no estudo do Candomblé. Suas experiências com sua tia sacerdotisa e sua irmã pesquisadora aprofundaram sua conexão com a espiritualidade do Candomblé. Carlos visitou terreiros, participou de cerimônias sagradas e estudou a história e mitologia desta religião. Ele compartilha seu conhecimento através do livro “Candomblé Desmistificado: Guia para Curiosos”, buscando quebrar estereótipos e oferecer uma visão autêntica desta tradição espiritual. Carlos é um defensor da diversidade e do respeito às religiões de matriz africana, equilibrando sua vida entre a escrita, a família e a busca contínua pelo conhecimento. Com seu livro, Carlos convida os leitores a uma jornada pelos mistérios e belezas do Candomblé.

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