Introdução – O Santo que Libertou pela Humildade
Entre as montanhas silenciosas da Espanha, um homem aprendeu que o verdadeiro poder não vem da riqueza ou do trono, mas da renúncia e do perdão.
Esse homem era São Pedro de Alcântara, o franciscano austero que fez da simplicidade um espelho da alma e da liberdade um estado do espírito.
Celebrado no dia 19 de outubro (ou 20, em algumas tradições), ele é lembrado como o padroeiro do Brasil, o santo da penitência, e o protetor dos que buscam perdão e libertação interior.
Sua vida é um chamado à transformação — e sua mensagem ecoa também nas tradições afro-brasileiras, onde o perdão é o primeiro passo para o equilíbrio do axé.
Quem foi São Pedro de Alcântara
Pedro nasceu em 1499, na cidade de Alcântara, na Espanha, e desde cedo sentiu o chamado para a vida religiosa.
Entrou na Ordem dos Franciscanos e escolheu viver de forma radicalmente simples — descalço, comendo pouco, dormindo sobre pedras, e dedicando cada gesto à oração.
Sua fé o levou a fundar o ramo dos Franciscanos Descalços, um movimento que pregava a pobreza absoluta e a contemplação silenciosa.
Era um homem de visões e de milagres.
Diz-se que levitava durante as orações e que possuía o dom de curar os aflitos, sempre com palavras de ternura e humildade.
Mas sua grande lição não foi apenas espiritual — foi humana.
Pedro de Alcântara ensinou que a penitência não é castigo, mas purificação; que o arrependimento verdadeiro liberta a alma e abre o caminho da graça.
O Santo do Perdão e da Liberdade Espiritual
A imagem de São Pedro de Alcântara ajoelhado diante da cruz simboliza a entrega total do ego.
Em um mundo que exalta o poder e o acúmulo, ele viveu para demonstrar o oposto: que a liberdade nasce do desapego.
“A pobreza é o caminho da alma livre”, dizia ele.
“A liberdade é a força do espírito reconciliado com Deus.”
Por isso, é considerado o santo do perdão — não apenas o perdão concedido aos outros, mas o que nasce dentro de nós quando aceitamos nossos próprios erros.
É essa libertação interior que, segundo suas pregações, reconcilia o ser humano com o divino.
No Candomblé, essa visão ecoa profundamente.
Assim como Pedro se libertava pela humildade, os filhos de santo aprendem que o perdão é a limpeza do ori — a cabeça espiritual —, um gesto que reequilibra o axé e permite que a vida volte a fluir.
O perdão, nesse sentido, é o elo entre o homem e o sagrado, seja no mosteiro ou no terreiro.
São Pedro de Alcântara e o Brasil
A devoção a São Pedro de Alcântara atravessou oceanos.
Durante o período colonial, os franciscanos trouxeram sua imagem para o Brasil, e rapidamente o santo tornou-se símbolo de fé entre o povo.
Ele é o padroeiro da cidade de São Pedro de Alcântara, em Santa Catarina, e também o padroeiro do Brasil, reconhecido pelo Papa Leão XIII.
Sua influência espiritual está presente em templos, capelas e corações que o invocam nos momentos de arrependimento e recomeço.
No imaginário popular, São Pedro de Alcântara é o santo dos que buscam libertar-se das correntes invisíveis da alma — os vícios, as culpas e os medos que nos prendem ao passado.
Sincretismo Religioso e Correspondência Afro-Brasileira
No sincretismo afro-brasileiro, São Pedro de Alcântara é por vezes associado a Xangô, o orixá da justiça e do equilíbrio.
Ambos representam o poder da verdade libertadora: Xangô corta com o machado o que está em desequilíbrio, e Pedro dissolve o peso da culpa com o perdão.
Outros sacerdotes, no entanto, veem nele a energia de Obá, a guerreira que defende sua fé com firmeza e dignidade.
Ambos os arquétipos — o do juiz e o da guardiã — se unem na figura do santo franciscano, que lutou contra o próprio ego para servir ao espírito.
Essa união de caminhos reflete o coração do Candomblé Desmistificado: a fé como ponto de encontro, nunca de separação.
O santo e o orixá coexistem, pois ambos ensinam que a liberdade espiritual nasce da entrega e da justiça interior.
Oração a São Pedro de Alcântara
“Glorioso São Pedro de Alcântara,
que pela penitência e humildade alcançastes o dom da paz interior,
intercedei por nós,
para que aprendamos a perdoar e libertar o coração das amarras da dor.Ajudai-nos a compreender que a verdadeira liberdade
nasce da reconciliação com o que somos e com o que vivemos.Fazei de nós instrumentos do amor e da serenidade.
Amém.”
Essa oração é frequentemente usada em momentos de culpa ou dificuldade emocional.
Ela simboliza o ato de entregar o fardo ao divino e confiar na força do perdão como remédio espiritual.
Três Virtudes que São Pedro de Alcântara Representa
1. Humildade
A base de toda evolução espiritual.
Pedro dormia sobre pedras e jejuava não por martírio, mas por amor — para lembrar-se de que o corpo é apenas o invólucro da alma.
2. Perdão
O perdão é o fio que reconecta a alma ao Criador.
Ele não exige esquecimento, mas compreensão — e foi isso que Pedro ensinou a seus discípulos.
3. Liberdade
Para o santo, a liberdade verdadeira não era política ou material, mas espiritual.
Era o estado daquele que já não é escravo do passado, nem refém do orgulho.
Itan Espiritual — O Espelho da Água
Nas tradições de Ifá, há um itan que diz:
“O homem que se recusa a perdoar carrega um espelho quebrado no peito.
Enquanto não o refaz, verá sempre sua dor refletida no outro.”
Essa antiga sabedoria yorubá reflete perfeitamente a mensagem de São Pedro de Alcântara.
Assim como Oxum ensina a acalmar as águas do coração, Pedro nos convida a purificar o espelho da alma.
Ambos, em caminhos distintos, revelam a mesma verdade: o perdão é a ponte entre o homem e o divino.
Fontes e Links Externos
🔗 Leituras Relacionadas no Candomblé Desmistificado
Se você deseja entender mais sobre a união entre fé, história e ancestralidade, explore também outros textos da nossa série:
- Santa Edwiges: A Santa dos Endividados e o Caminho da Prosperidade – uma reflexão sobre fé, abundância e a energia de Oxum;
- Casas dos Ancestrais: O Ilê Egum e o Poder da Tradição – descubra como os cultos aos ancestrais sustentam a base espiritual do Candomblé;
- Exu: O Guardião dos Caminhos e das Encruzilhadas – entenda o papel do mensageiro divino que conecta os mundos;
- Xangô: O Orixá da Justiça e do Fogo Interior – uma ponte entre a força da justiça divina e o equilíbrio da alma.
FAQ – Perguntas Frequentes
Quem foi São Pedro de Alcântara?
Foi um frade franciscano espanhol conhecido pela vida de oração, penitência e austeridade. Tornou-se símbolo de perdão e liberdade espiritual.
Por que ele é padroeiro do Brasil?
A devoção se espalhou com a chegada dos franciscanos ao país, e o Papa Leão XIII o proclamou padroeiro em 1826.
Com qual orixá São Pedro de Alcântara se relaciona?
Em algumas linhas sincréticas, é associado a Xangô pela força da justiça e ao Obá pela fidelidade à fé.
Qual é o dia de São Pedro de Alcântara?
A data litúrgica é celebrada em 19 ou 20 de outubro, dependendo do calendário da igreja local.
Conclusão – O Perdão que Liberta
São Pedro de Alcântara nos recorda que ninguém está preso para sempre às próprias falhas.
Aquele que busca o perdão já está no caminho da liberdade, pois reconciliar-se com a vida é reconciliar-se com o divino.
Assim como nas águas calmas de Oxum, a alma perdoada volta a refletir o sol.
E é por isso que, em cada oração, São Pedro de Alcântara continua a ecoar no coração dos que buscam paz:
“Quem aprende a perdoar, aprende a voar.”


Deixe um comentário