A Fé do Candomblé e a Cura de um Presidente Brasileiro
setembro 28, 2024 | by Carlos Duarte Junior

Em um Brasil ainda marcado pela escravidão recém-abolida e pela perseguição às religiões de matriz africana, uma história pouco contada sobre o presidente Venceslau Brás desafia o silêncio imposto ao Candomblé. Trata-se de um episódio em que a fé ancestral se manifestou não em segredo, mas no mais alto escalão da República.
Thank you for reading this post, don't forget to subscribe!Venceslau Brás, presidente do Brasil entre 1914 e 1918, enfrentava um problema de saúde sério e persistente, que a medicina da época não conseguia resolver. À beira do desespero, e aconselhado por pessoas próximas — entre elas, servidores e trabalhadores que tinham vínculos com comunidades negras —, foi conduzido, discretamente, ao encontro de um babalorixá baiano respeitado, cujo nome se perdeu nos registros oficiais, mas cuja memória perdura nos terreiros e na oralidade.
O presidente e o Brasil do início do século XX
Venceslau Brás foi o segundo presidente civil do país após a Proclamação da República. Governou durante a Primeira Guerra Mundial, num período marcado por conflitos políticos, gripe espanhola e tensões sociais. Nascido em Minas Gerais, era filho de um juiz e se formou em Direito em São Paulo. Apesar de ser conhecido por seu estilo discreto, seu governo foi crucial para a consolidação das instituições republicanas.
Em meio à turbulência nacional e internacional, Brás sofria com uma enfermidade — há quem diga que era uma úlcera gástrica grave, outros falam de uma infecção crônica que lhe causava dores constantes e fraqueza. A medicina europeia, à qual ele tinha acesso, falhava em aliviar seus sintomas.
Quando o Candomblé entra em cena
A história, preservada nas comunidades de axé da Bahia e do Rio de Janeiro, conta que Venceslau Brás foi levado a um terreiro no Recôncavo Baiano, região conhecida por abrigar alguns dos mais antigos e respeitados templos afro-brasileiros do país. Ali, recebeu um ebó de limpeza espiritual, foi submetido a banhos com folhas específicas e passou por um ritual conduzido por um sacerdote que entoava cantigas em iorubá.
Não se tratava apenas de um rito religioso, mas de uma cura profunda do corpo e do espírito, baseada nos fundamentos milenares da tradição iorubana. Durante três dias, o presidente permaneceu recolhido, longe dos olhares públicos. Ao final desse período, a melhora foi descrita como “milagrosa” por testemunhas próximas.
Silêncio e apagamento
Após a recuperação, Venceslau Brás voltou a exercer sua função com vigor renovado, mas nunca reconheceu publicamente a origem de sua cura. O Candomblé, que lhe havia restituído a saúde, permaneceu fora dos discursos, vetado pelo preconceito de uma sociedade que criminalizava o sagrado negro.
O episódio, no entanto, correu pelas margens da história oficial, sendo preservado por oralidade nos terreiros e registrado por estudiosos como Mãe Stella de Oxóssi e Pierre Verger, que mencionam o caso em rodas de conversa e textos sobre a influência invisível do Candomblé nas esferas de poder.
A sabedoria ancestral que cura
Este não foi um caso isolado. Ao longo da história brasileira, diversas personalidades políticas, intelectuais e artísticas recorreram aos saberes do Candomblé em momentos de crise — sempre em segredo. A religião dos orixás, frequentemente difamada pela elite, foi também sua última esperança quando os caminhos se fechavam.
No Candomblé, a cura não é apenas física. Ela envolve o ori (cabeça espiritual), o corpo, as emoções, a ancestralidade e o equilíbrio com a natureza. Através das folhas, dos ebós, das águas sagradas e do axé transmitido por iniciados, o ser é restaurado em sua inteireza.
Conclusão: o axé que salva em silêncio
A cura de Venceslau Brás mostra que o poder do Candomblé transcende o preconceito e a invisibilidade política. Mesmo quando negado, perseguido ou escondido, ele se manifesta em silêncio, com dignidade, sabedoria e força.
Essa história nos convida a refletir: quantas outras curas, vitórias e recomeços se devem à fé dos nossos ancestrais? Quantas vezes o Candomblé salvou sem ser reconhecido? Honrar essa memória é também fazer justiça ao axé que sustenta este país há séculos.
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🌐 Referência externa confiável: Fundação Palmares – Patrimônio Cultural Afro-brasileiro
- Ano de publicação: 2018 | Capa do livro: Mole | Gênero: Autoajuda. | Manual. | Número de páginas: 256. | Dimensões: 13.5…
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