Orixá Tempo: O Guardião do Silêncio e da Natureza
setembro 25, 2024 | by Carlos Duarte Junior

Orixá Tempo
Em muitos terreiros, quando se fala em Tempo, escuta-se um silêncio respeitoso. Não é apenas pelo mistério que envolve esse orixá, mas porque seu axé habita a eternidade e a transição. O Tempo não é um orixá qualquer: ele é aquele que vem antes, durante e depois. É movimento, mas também permanência. É ciclo, mas também ruptura. Tempo é o princípio que rege tudo — do nascimento ao fim.
Thank you for reading this post, don't forget to subscribe!O Tempo como força ancestral
O orixá Tempo é uma entidade rara nos cultos afro-brasileiros. Sua presença é mais comum em algumas nações específicas, como Ketu e Jeje, onde também pode ser chamado de Iroko ou Chronos, dependendo da tradição sincrética local. Mas independentemente do nome, o respeito a essa força é profundo. Ele é a própria estrada por onde caminham os orixás, os humanos e os ancestrais.
Dizem que Tempo não fala — ele observa. Por isso, seus rituais muitas vezes são silenciosos, feitos em momentos de recolhimento. O tempo escuta o que o coração fala em segredo.
A lenda do Orixá que governa todos
Há uma lenda entre os mais velhos que diz que, quando o mundo foi criado, cada orixá recebeu um domínio. Oxum ficou com as águas doces, Xangô com a justiça, Ogum com o ferro, Iansã com os ventos. Mas nenhum deles podia agir sem a permissão do Tempo. Pois antes de tudo começar, havia ele: o silêncio da eternidade.
Nessa história, conta-se que os orixás estavam ansiosos para agir, para moldar o mundo. Mas tudo se embaralhava, pois não havia ritmo, não havia ciclo, não havia pausa. Foi então que Tempo surgiu. Com seus passos lentos, ele delimitou os dias, organizou os ritos e determinou os momentos. Só então os orixás puderam agir em harmonia.
Por isso, diz-se que Tempo não tem dono, mas todos devem respeitá-lo.
Ciclos, folhas e o sagrado invisível
No Candomblé, tudo se dá em ciclos. Os ciclos da iniciação, do amadurecimento, das obrigações. E quem comanda esses ciclos é Tempo. Ele ensina que nada floresce fora do tempo certo. Que nem tudo que parece parado está sem vida. Que a folha seca também tem axé.
As folhas utilizadas para o culto de Tempo geralmente são as mais resistentes, mais velhas, ou até aquelas que caíram sozinhas da árvore. Isso porque ele rege o que se transforma, o que decanta, o que se resignifica.
Muitas casas mantêm um espaço reservado para Tempo — um canto, um tronco, um marco de pedra ou madeira, muitas vezes fora da roça principal. É o ponto onde o mundo visível e invisível se tocam com mais força.
Cultuar Tempo é aceitar a vida com sabedoria
Em tempos acelerados, cultuar o Tempo é um ato de revolução espiritual. É lembrar que nem tudo deve ser agora, que o silêncio também fala, e que respeitar os próprios ciclos é parte do caminho.
É comum que pessoas em processos de transição — mudanças de casa, fim de ciclos, perdas ou recomeços — sejam orientadas a oferecer algo a Tempo. Pode ser um copo de água, um obi, folhas, ou apenas a sua presença respeitosa diante de um espaço sagrado. Tempo não exige barulho — ele aceita a verdade.
Orixá Tempo hoje
Hoje, o culto a Tempo ainda é cercado de discrição. Muitos não falam sobre ele abertamente, não por segredo, mas por reverência. Porque Tempo não se apressa, e quem cultua Tempo aprende a andar com mais fé.
Resgatar o conhecimento sobre esse orixá é também resgatar uma forma de viver mais profunda, mais alinhada ao axé verdadeiro das coisas. Em vez de forçar, fluir. Em vez de acelerar, compreender.
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Fonte recomendada:
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) – Dossiê do Candomblé como Patrimônio Imaterial
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