Quarta-feira no Candomblé: Rituais, Axé e a Presença de Iansã

setembro 26, 2024 | by Carlos Duarte Junior

No Candomblé, cada dia da semana carrega um axé específico e é regido por orixás que influenciam os rituais, os banhos, as oferendas e a vibração espiritual das casas de santo. A quarta-feira é um dia de grande força espiritual e está associada especialmente à presença de Iansã, a orixá dos ventos, tempestades e das mudanças rápidas. Também é um dia de conexão com os eguns (espíritos ancestrais), o que torna esse momento da semana propício para rituais de proteção, descarrego e limpeza profunda.

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Iansã: A Senhora dos Ventos e dos Raios

Iansã, também conhecida como Oyá, é a senhora dos ventos, do fogo e das transformações. Seu axé é movimentado, energético, forte. Ela rege o caos que antecede a renovação e, por isso, a quarta-feira é considerada um dia de mudanças. É nesse dia que muitos terreiros fazem limpezas espirituais ou rituais de proteção para aqueles que estão enfrentando dificuldades, doenças ou incertezas.

Iansã também tem forte ligação com os eguns, os espíritos dos mortos. Ela não os governa — essa é uma atribuição de Obaluayê —, mas ela tem o poder de afastar espíritos perturbadores, limpar os caminhos e abrir as estradas para que a vida retome seu fluxo.

A Quarta-feira e os Rituais com Eguns

Nos terreiros, a quarta-feira é muitas vezes reservada para obrigações relacionadas ao culto dos ancestrais, também chamados de eguns. Em algumas tradições, esse é o dia mais adequado para fazer oferendas, rezas ou defumações com o objetivo de acalmar, agradecer ou afastar essas presenças espirituais.

Alguns rituais realizados nesse dia envolvem:

Defumação com folhas de guiné, arruda, alecrim ou alfazema;
Banhos de descarrego com ervas de Iansã;
Oferendas de água, milho, velas ou comidas específicas nos locais apropriados (como o peji ou assentamentos);
Rezos para proteção do ori (cabeça espiritual).

O Poder dos Ventos: Espiritualidade em Movimento

Quarta-feira também é o dia ideal para refletir sobre mudanças. Sabe aquele momento em que sentimos que algo precisa sair para o novo entrar? Que precisamos tomar decisões importantes ou nos libertar de pesos antigos? Esse é o axé da quarta-feira. O movimento dos ventos simboliza não apenas o caos, mas a capacidade de mudar, desapegar e seguir em frente.

Na espiritualidade do Candomblé, nada permanece estagnado, e Iansã é o lembrete vivo de que o tempo passa, as emoções se renovam e o axé precisa circular.

Como Honrar a Quarta-feira no Cotidiano

Mesmo fora de um terreiro, é possível vibrar com a energia da quarta-feira e se conectar com o axé de Iansã e dos eguns com respeito e intenção. Algumas práticas que você pode fazer:

Acenda uma vela vermelha ou branca pedindo força e proteção;
Tome um banho de folhas como levante, manjericão ou alfazema para movimentar sua energia;
Faça uma oração à sua ancestralidade, pedindo clareza e direcionamento;
Coloque flores ao vento como símbolo de gratidão pelas transformações.

Conclusão: Quando os Ventos Falam, o Axé Responde

A quarta-feira é um convite à libertação. Sob a regência de Iansã e em conexão com os eguns, ela nos lembra que nada é eterno, que o sofrimento também passa e que o axé circula — basta deixar os ventos levarem o que já cumpriu seu tempo.

Honrar esse dia é reafirmar nossa fé, nossa coragem de mudar e nossa conexão com o mundo espiritual. É abrir o peito ao vento e dizer: “Eu confio no movimento da vida.”

Além dos mitos e arquétipos, os orixás nos ensinam sobre resiliência, justiça, amor e transformação. Cada narrativa é um espelho de situações humanas, oferecendo caminhos para lidar com desafios cotidianos por meio da fé e da ancestralidade. Conhecer essas histórias não é apenas se aproximar dos orixás — é também reencontrar nossas próprias raízes e renovar o axé que pulsa dentro de nós.