Como as Tias Baianas espalharam o Candomblé pelo Rio de Janeiro
setembro 27, 2024 | by Carlos Duarte Junior

Muito antes das escolas de samba, das feijoadas e dos blocos populares ocuparem o centro do Rio de Janeiro, as Tias Baianas já sustentavam a cidade com fé, comida e axé. Eram mulheres negras, vindas da Bahia, que espalharam pela capital imperial os fundamentos do Candomblé, moldando os primeiros terreiros urbanos e mantendo vivas as tradições de seus ancestrais mesmo sob repressão e preconceito.
Thank you for reading this post, don't forget to subscribe!Elas foram mais que figuras folclóricas: foram líderes espirituais, educadoras informais e guardiãs da ancestralidade. Suas histórias merecem lugar de honra na memória do povo de axé.
Mulheres que vieram da Bahia com o axé na palma das mãos
Com a intensificação da diáspora africana no Brasil, muitas mulheres negras baianas se deslocaram para o Rio de Janeiro após a abolição. Eram ex-escravizadas, quituteiras, parteiras, curandeiras e mães de santo. Chegaram com seus tabuleiros, suas rezas, suas folhas e seus orixás.
Ao se instalarem em regiões como Saúde, Gamboa e Praça Onze — onde nasceu a chamada Pequena África — essas mulheres passaram a atuar como referências comunitárias. Seus quintais viraram terreiros. Suas cozinhas, templos. Suas palavras, bússolas.
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Os quintais como espaço de culto e resistência
Sem direito a templos ou liberdade religiosa, as Tias Baianas abriram suas casas para a espiritualidade. Era nos fundos de suas moradias que o Candomblé acontecia: toques, rezas, banhos, oferendas e iniciações.
Entre elas estavam Tia Ciata, Tia Bibiana, Tia Veridiana e Tia Perciliana — todas referências de firmeza, sabedoria e liderança. Algumas associavam os orixás a santos católicos para escapar da perseguição policial; outras mantinham os ritos com absoluto sigilo. Todas partilhavam a fé como quem reparte pão.
Mesmo diante da repressão da Primeira República, que tratava os cultos africanos como crime, essas mulheres mantiveram aceso o fogo do axé com coragem e estratégia.
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Sabedoria de mulher preta: o coração do terreiro
As Tias Baianas eram muito mais do que líderes religiosas. Eram educadoras informais, conselheiras e gestoras de redes sociais e espirituais. Ajudavam a curar com folhas, preparavam banhos, orientavam meninas e meninos, e organizavam festas que reuniam o bairro inteiro.
Elas falavam com firmeza e sabiam quando calar. Entendiam o tempo das coisas. Protegiam os fundamentos, mas também sabiam transitar entre os mundos — o visível e o invisível, o popular e o sagrado, o religioso e o político.
Com suas saias rodadas, turbantes e colares de contas, encarnavam o axé da terra, da sabedoria ancestral e da força feminina que sustenta e transforma.
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O legado vivo das Tias Baianas
Sem as Tias Baianas, o Candomblé no Rio de Janeiro não teria sobrevivido. Foram elas que abriram caminhos, formaram novas mães de santo, ensinaram os cânticos e resguardaram os segredos. O que se vê hoje nos terreiros da Zona Norte, da Baixada e do subúrbio carioca nasceu com elas, em silêncio, no quintal das suas casas.
Elas não tinham título acadêmico, mas foram mestras da vida, da fé e da resistência. O legado das Tias Baianas pulsa em cada toque de atabaque, em cada prato de comida ritual, em cada palavra dita com axé.
Conclusão: Honrar as Tias é fortalecer a raiz
As Tias Baianas são as raízes vivas do Candomblé no Rio. Mulheres que transformaram o cotidiano em rito, a cozinha em altar, a rua em terreiro. Elas sustentaram uma religião criminalizada com a força do corpo e da alma.
Honrar essas mulheres é reconhecer que o axé tem nome, rosto, história e voz feminina. É lembrar que a espiritualidade afro-brasileira nasceu da sabedoria de mulheres que, mesmo sem liberdade, nunca deixaram de ser livres.
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🔗 O Candomblé e a ancestralidade
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